A utilização de cânhamo não é uma novidade. Datando desde 9.000 a.C., esta planta tem sido um elemento essencial em muitos momentos históricos. Em Portugal, particularmente durante o período da Coroa Portuguesa, o cânhamo foi amplamente utilizado na construção de cordas e embarcações. Com o avanço das regulamentações e estudos científicos, o cânhamo está a ganhar nova vida no mercado atual, destacando-se pelas suas múltiplas vantagens.
O ciclo de produção do cânhamo: da plantação à colheita
A estrutura robusta do caule do cânhamo é o ponto inicial para a produção de algumas das fibras naturais mais resistentes e versáteis disponíveis. Cultivado ao ar livre e alcançando uma altura de 3 a 5 metros, o cânhamo necessita de um denso espaçamento de cerca de 375 a 540 plantas por m². Este arranjo permite evitar a produção de ramos e flores, focando-se na maximização da fibra extraída dos caules.
Após um ciclo de cultivo que pode variar entre 70 a 120 dias, o processo de beneficiamento inicia-se imediatamente após a colheita, utilizando maquinaria semelhante à usada para feno. O caule é cuidadosamente separado nas várias camadas que incluem fibra primária, interna e intermediária, cada uma destinada a propósitos específicos. Este processo eficiente transforma o cânhamo numa alternativa viável para diversas indústrias.
Aplicações industriais das fibras de cânhamo
Os produtos têxteis são talvez o uso mais conhecido do cânhamo, sendo uma alternativa sustentável face ao algodão tradicional. Não só o cânhamo é considerado mais amigo do ambiente, mas também oferece vantagens como resistência, maciez e propriedades antialérgicas. A importação de tecidos de cânhamo já se encontra disponível no país, com várias empresas de moda portuguesas a explorar esta possibilidade.
Outro exemplo notável é o hempcrete, ou concreto de cânhamo, um material inovador utilizado na construção civil. Apesar de não servir como material estrutural, o hempcrete potencializa as construções verdes devido às suas propriedades isolantes e baixa pegada de carbono.
- Tecidos: Resistentes, macios e antialérgicos, ideais para a moda sustentável.
- Hempcrete: Solução ecológica para construção civil com propriedades isolantes.
- Painéis e materiais compostos: Versatilidade nas aplicações industriais.
Impacto ambiental e benefícios económicos das fibras de cânhamo
O cultivo do cânhamo possui uma produção de carbono negativa, absorvendo mais CO₂ da atmosfera do que emite durante todas as fases de produção e transporte. Isto contrasta significativamente com materiais sintéticos como o poliéster, cuja produção emite milhões de toneladas de CO₂ anualmente.
Além disso, o cânhamo requer menos herbicidas, pesticidas e fungicidas, promovendo uma agricultura mais saudável e reduzindo a poluição dos solos e recursos hídricos. Esta prática agrícola sustentável impulsiona ainda a economia, criando oportunidades em sectores diversos como o têxtil, construção, papel e bioplásticos.
Na indústria da moda, os tecidos sintéticos têm implicado vários problemas ambientais e de saúde. Alternativas como a viscose, por exemplo, envolvem a extração de celulose de árvores nativas, contribuindo para o desmatamento e utilizando substâncias químicas nocivas. O cânhamo, por outro lado, oferece uma solução que minimiza esses impactos e preserva os ecossistemas naturais.
Finalmente, a diversidade de aplicações das fibras de cânhamo abre portas a um mercado multissetorial, promovendo inovações e novas abordagens sustentáveis. Desde o desenvolvimento de novos produtos até à transformação de práticas agrícolas tradicionais, o potencial económico do cânhamo é vasto e promissor, alinhando-se com as necessidades contemporâneas de sustentabilidade e inovação.